quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A VIDA CABE A QUEM...

ouvia o som das sirenes ao fundo
misturado ao chiar da leve garoa que caía
naquela madrugada fria
um filho, pra casa, não voltaria
uma mãe choraria
um pai angustiado
a fim de consolá-la
tentando esconder seu próprio pranto
talvez, não

talvez, um pai não voltaria
deixaria sua filha de 4 anos
abraçada ao urso de pelúcia, dormindo
sua esposa banharia os lençóis e travesseiros
pensando na última conversa,
uma briga
e incerta de seu paradeiro
sem notícias, com mil suposições na mente
o gosto salgado das lágrimas nos lábios
e ele não voltaria,
não mais

ou ainda, poderia ser,
por um safado qualquer
que não quis lhe pagar o serviço,
a prostituta morta
que deixaria em casa
filho pequeno a sustentar e educar
pai idoso, apenas com aposentadoria miserável
ou, também, o sonho de se formar
terminar os estudos e viajar

poderia ser a garota que descobriu
que era apaixonada
por sua melhor amiga
que por ela, também o era
mas que, apenas por isso,
teve a má-sorte, se fosse questão de sorte,
de ter nascido
em tempos tão duros e covardes
pra ser morta só por ser,
desejar e amar
o que de belo houver
em qualquer ser
e, assim, então, ser punido
por pecado inexistente
por qualquer inconsequente
desgraçado pelo amor

ao fim,
penso, na morte,
não há justiça
talvez dor, talvez alívio
de quem fica, de quem vai
e o que se faz, enquanto vivo
da vida cabe
a quem tão pouco sabe
e a mais ninguém


por bruno muniz, 19 de feveireiro de 2014.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DOS QUE LUTAM

face o fuzil
de fascínoras fascistas
faz motriz sua força
à foice e fé

ante aos atentados
ao amor e à amizade
a angústia e a agonia
atingem o ápice
aviltosos

depois da derrota
dos desesperados
difíceis dúvidas dão-se
ao dobrar dos sinos d'ouro

vertiginosamente,
vê-se o virtuoso
vagar em vão no vale
das vis e vulgares vidas
dos vitoriosos vilões
em verde verve
via vísceras da vergonha

conhece a confusão e o caos
o começo da criação
compreende o ciclo
e crê

sem saber que sozinho superou
seus sombrios sentimentos
de sangue e sordidez

e ri,
resoluto em resistência
rígido em rebeldia

todavia somente triunfará

se, em absoluto,

uno à urgência, não utópica, mas ululante

da louvável e literal
latente e leal
luz da liberdade

e a indispensável
e indissolúvel
igualdade


por bruno muniz, 13 de fevereiro de 2014.