sexta-feira, 25 de julho de 2014

CÚMPLICES

milênios sob chamas
sonhos sepultados
pequenos desgraçados
jovens amputados

mães sem esperança
histórias roubadas
amigos perdidos
vidas saqueadas

peitos vazios
destroços espalhados
ruas de sangue
de deus, fingiu-se o diabo

o futuro condenado
expulsos, ultrajados
o destino soterrado
aos corpos amontoados

não haverá amanhã
se houver apenas silêncio
não haverá amanhã
se houver apenas tormento

somente o horror,
a morte, a dor
somente o medo,
a covardia, o terror

o assassínio liberto
brutal e interminável
a passividade declarada
assumida e abominável

perdoai-nos, um dia
perdoai nossa dificuldade
perdoai nossa falta de coragem
perdoai nossa cumplicidade,
nossa imensa
perversividade


por bruno muniz, 25 de julho de 2014.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

DESPIDA

os pequenos pelos
em suas costas,
contornando suas lindas
e sutis covinhas
à altura da cintura
perfeitos para o abraço
perfeito encaixe
delicados pelos
traçados como um caminho
à gota do suor de desejo
pelos que entregam
pelos que denunciam
e apontam para o alto
e pedem
pelo beijo
pelo toque
pelos dentes famintos
ah, seu corpo todo
corpo que diz
que me quer
corpo que diz
muito mais que seus lábios
lábios que dançam
a me provocar
molhados
e cheios de carne
precisamente trêmulos
pecados impecáveis
e os fios de seu cabelo
que, à ela,
não resistem
e tocam seus seios
os acariciam
suavemente
com prazer
a cada toque de suas pontas
leves
e finas
cabelos confusos
de próprias vontades
então
o calor toma conta
do quarto
do ar
de mim
o calor consome
o quarto
o ar
este homem
e ela não solta
sequer uma palavra
mas suas mãos se libertam
desprendem-se
deslizam seus dedos
e prendem seus medos
e arranham sua pele
macia e tenra
seduz e se conhece
quando escolhe,
me chama e se despe
pois sente
e sabe
que ela e ninguém,
e eu aprendi em meu lado,
que ela é dona de si
e de seu corpo também


por bruno muniz, 12 de julho de 2014.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

NENHUM MAL ALÉM DESEJO

real e poderoso, o ato impensado
que, despretensioso, atropela sem remorsos
a reação do carrasco de sempre
que derruba o machado de suas mãos
e lhe tira a máscara covarde
de sua vil e baixa autoridade

é com desdém que se desarma
qualquer ódio, qualquer ira
que se desafia qualquer leviana acusação
nem o revide,
nem a outra face
somente
a esquiva à lá Ali
pra deixar
em descompasso
seu pessoal Leviatã

você
que me apontou o dedo ao crime
que me entregou de bom grado
à fome dos leões
você
que me quis
ver com sede no deserto
mas
não esperava
que eu pudesse estar desperto
pra encontrar outro caminho
pra construir
meu destino

como disse o poeta
"apesar de você", e,
digo,
graças também
me fiz forte e fui além
não lhe desejo nenhum mal
a mim, já bastam
os que já tem


por bruno muniz, 06 de julho de 2014.