terça-feira, 15 de abril de 2014

DA CHUVA E DO QUE SE VAI

ouço os estalidos das gotas
da chuva persistente
sobre as poças d'água
no asfalto rústico
constantes, incansáveis

ouço e não sinto,
não na pele
o que cai dos céus
e vem a purificar
tão sujo e desumanizado
povo

não, não me molha
a chuva
estou protegido, fechado
sob um teto e paredes
protegido, abrigado
obrigado
e sem pensar, aceito
isso
aceito
é assim, é preciso

não, não me molha
a chuva
assim, não
me purifica
sou sujo e permaneço
desejando a ducha
artificial do meu
chuveiro

esqueço a sensação
da água fria dos céus
que escorre pelo corpo
e se esvai através
dos pés
até a grama e a terra
esqueço a sensação
da natureza que renova
e revive
em nós
quando nos permitimos

ouço os estalidos das gotas
da chuva persistente
mas estou preso, inerte
me faço
sorridente
sob roupas e sapatos
todo dia
é indiferente

nem sol, nem chuva
nem sol, nem lua
vejo tudo pela janela
vejo tudo e nada toco

simples

despedida lenta e densa
da leveza de uma vida
que poderia ser imensa
deixo pra trás a chance
de uma história mais intensa

simples
deixo tudo
ir embora com a chuva


por bruno muniz, 15 de abril de 2014.

Um comentário:

  1. Às vezes fechamos a porta, quando deveríamos deixá-la aberta e assim, deixamos de provar outros gostos, outros sons, outras emoções, outras vidas e ficamos no conforto cego das nossas almas.

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