segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SENHOR TEMPO


(imagem cedida por meu grande amigo alvico)

rugas, dentes moles, mãos trêmulas
ossos fracos, unhas fracas, dor nas juntas
cabelos brancos, poucos cabelos, muitos pelos
voz rouca, ouvidos surdos, olhos cegos
memórias rotas, lembranças falhas, um bocado de momentos
confusos, perdidos, suspensos
roupas empoeiradas, costas encurvadas
e o mesmo medo persiste todos os dias

se diz maturidade seu fruto maior
sabedoria, o reflexo dos viveres
como mágica, desce a iluminação, bárbara
em busca da eternização, a eterna negação
do ser finito, temporal

à sombra, se escondem mentiras
ao pó, tornarão todos, indiscriminadamente
um por um, sem juízo final, ou misericórdia

o tempo ensina, cura, resolve, finaliza
minha conclusão não é nada genial
mas não poderia ser mais verdadeira
implacável, impiedoso, massacrante
o tempo envelhece, e isso ninguém quer lembrar
e não há retratos que, disso, nos salvarão
como já alertou-nos o sr. Wilde, com Dorian

envelhecer é questão de coragem,
de aceitar o destino único, inegável
de que a morte sempre chega, mas que
até sua vinda, a briga será boa,
não importando quantos ossos tenham de ruir e doer
pois da vida, o único medo justo
é o de perdê-la


por bruno muniz, 18 de agosto de 2013.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

AUTOR, IDADES

enferrujadas
como a carcaça
de um velho navio no fundo
do mar
palavras rebuscadas,
arcaicas
tecidas a fios
de teia de aranha
empoeiradas
como os livros amarelos
com cheiro de naftalina num armário escuro
como unhas longas
e descuidadas
sob a tinta do esmalte
relíquia disfarçada sob roupas novas
fala mansa
sob discursos despóticos
sorrisos
amarelos
em meio a passos neuróticos
os dentes cerrados,
olhos arregalados
a agressividade como defesa
o cinismo
como inocência
despidas de vergonha, de anseios
ou prazeres
ouvidos surdos, olhos cegos
e bocas
cheias de dizeres
as mãos
limpas
dissimulam a sujeira
escondida
sob o tapete vermelho de sua majestade
mas a carne é fraca
e os vermes são os mesmos
os que corróem os fracos, os fortes
os belos e os feios
a hora,
de todos, chega
tudo o que sobe
desce
e onde há fumaça, há fogo
e a verdade,
quem sabe
não esquece


por bruno muniz, 8 de agosto de 2013.