o cigarro aceso queimando o braço
daquela poltrona velha e encardida
o cheiro de mofo, a poeira leve
o rejunte sujo, a ferrugem das dobradiças
o cão companheiro ao pé da poltrona
em triste olhar ao silêncio do dono
seu pote de comida vazio e sem água
seu pelo embaraçado, sem carinho ou adorno
a tv ligada em canal qualquer
canais de venda e propagandas mentirosas
pastores gritam à salvação dos justos
mas ninguém trará sorte a essas almas chorosas
a torneira da pia da cozinha pinga
o ponteiro do relógio da parede parou
na cidade insana que não para ou dorme
vizinho algum deu falta ou procurou
o lixo
já começava a deteriorar
o odor desagradável
tomava conta do lugar
aquele velho cão,
parceiro fiel
entendeu primeiro,
mas não olhou ao céu
cartas não passavam porta abaixo,
dias se passaram
janelas fechadas,
nem os pássaros cantavam
até a senhoria vir cobrar o aluguel,
ninguém notará
e, mesmo morto há tempos,
sozinho, não está
sem Deus por perto,
sem qualquer acalento
sobrou seu amigo
contra qualquer tormento
pode descansar
ante a dor do ser
de estar à deriva,
à espera de viver
por bruno muniz, 31 de outubro de 2013.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
ENTRE NÓS
se fosse só uma questão de beijos
ou de abraços mais apertados e demorados
se fosse só uma questão de risos
ou de conversas sobre o dia a dia
se fosse só uma questão de olhares
ou de respeito, filosofia e religião
se fosse só uma questão simples
de combinar elementos diversos
mas não é assim que funciona
conosco, as coisas são mais profundas
não que deixamos de combinar em algo
muito menos que não saibamos administrar diferenças
a questão é que
quando se trata de nós dois
falamos de mais que paixão e calor
mais que vontade e prazer
entre nós, se trata de paz e alegria
se trata, mais ainda, de natureza e alma
entre nós, a combinação é a compreensão
de um sorriso ou de um silêncio
entre nós, a amizade é a fortaleza
que preserva um amor que apoia e incentiva
entre nós, a segurança é o crescimento
do carinho, da cumplicidade e da honestidade
entre nós, o amor é muito mais
que uma palavra bonita de quatro letras
é eu me encontrar em você
e você se encontrar em mim
tudo em liberdade
o que significa que
sem que para isso
precisemos deixar de ser nós mesmos
indivíduos voluntariamente entregues um ao outro
por bruno muniz, 27 de outubro de 2013.
ou de abraços mais apertados e demorados
se fosse só uma questão de risos
ou de conversas sobre o dia a dia
se fosse só uma questão de olhares
ou de respeito, filosofia e religião
se fosse só uma questão simples
de combinar elementos diversos
mas não é assim que funciona
conosco, as coisas são mais profundas
não que deixamos de combinar em algo
muito menos que não saibamos administrar diferenças
a questão é que
quando se trata de nós dois
falamos de mais que paixão e calor
mais que vontade e prazer
entre nós, se trata de paz e alegria
se trata, mais ainda, de natureza e alma
entre nós, a combinação é a compreensão
de um sorriso ou de um silêncio
entre nós, a amizade é a fortaleza
que preserva um amor que apoia e incentiva
entre nós, a segurança é o crescimento
do carinho, da cumplicidade e da honestidade
entre nós, o amor é muito mais
que uma palavra bonita de quatro letras
é eu me encontrar em você
e você se encontrar em mim
tudo em liberdade
o que significa que
sem que para isso
precisemos deixar de ser nós mesmos
indivíduos voluntariamente entregues um ao outro
por bruno muniz, 27 de outubro de 2013.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
O REI DA AMARGURA
há um tipo de crítico,
para o qual nunca há o bastante
eleva-se apenas
o que lhe interessa
desdenha
do que não pode compreender
ridiculariza tudo
que o supera
o onipotente,
que nada cria,
mas julga
sem qualquer pudor
acima do bem e do mal,
semi-deus
rei de adjetivos,
do féu e do horror
sob seu olhar
tudo parece opaco
não percebe que o limite
está em sua própria percepção
submerso
num mar de arrogância
morre afogado
em uma espécie de decepção
pois cria um mundo
perfeito a seu modo
e espera que seja
tudo como quer
deveria ter a boca
cheia de areia e terra
até perceber que o problema está
dentro de seu próprio ser
por bruno muniz, 25 de outubro de 2013.
para o qual nunca há o bastante
eleva-se apenas
o que lhe interessa
desdenha
do que não pode compreender
ridiculariza tudo
que o supera
o onipotente,
que nada cria,
mas julga
sem qualquer pudor
acima do bem e do mal,
semi-deus
rei de adjetivos,
do féu e do horror
sob seu olhar
tudo parece opaco
não percebe que o limite
está em sua própria percepção
submerso
num mar de arrogância
morre afogado
em uma espécie de decepção
pois cria um mundo
perfeito a seu modo
e espera que seja
tudo como quer
deveria ter a boca
cheia de areia e terra
até perceber que o problema está
dentro de seu próprio ser
por bruno muniz, 25 de outubro de 2013.
sábado, 12 de outubro de 2013
TODAS AS CORES
quando o amarelo-ouro, rei dos tempos, decretou
que os tapetes seriam os vermelhos-sangue
que os estandartes erguer-se-iam verdes
viu-se o azul-celeste esconder-se sob o gris das nuvens
o preto em luto pelos irmãos mortos
empunhou-se do prata das espadas ao lado dos rubros de ódio
nas batalhas, uniu-se a eles o azul-naval
e trouxe o branco rosto da paz burguesa
com as letras da pena em negro-nanquim
enquanto, pasmos eram os rostos pardos de medo e apatia
então, guilhotinaram o amarelo-ouro da coroa
e as túnicas pretas clericais caíram também
e quando os pretos em luto pensaram em olhar para o azul-celeste que renasceria
viram o azul-naval segurar o mastro
e o branco da paz assegurar a mansidão
logo estavam de mãos dadas
e os pretos, os vermelhos-sangue e rubros de ódio
novamente viram-se sufocados em seus guetos
eis que alguns vermelhos-vivos levantaram bandeira
prometeram terras, verdade e poder
conquistaram os corações de muitos sofredores
de tantos tempos árduos, de tanta miséria
quando, enfim, uns poucos despossaram o azul-naval e o branco da paz
e o azul-celeste parecia despontar, de fato,
aos pretos em luto, os vermelhos-sangue e os rubros de ódio
o verde das matas começou a morrer em ritmo acelerado e, então,
o gris celeste escureceu novamente e os mares transparentes refletiram
por fim, a verdade maior
que evidenciou-se,
cristalina
sem a luz do sol, por trás da escuridão das nuvens
exceto o sangue vermelho daqueles que sempre serviram como tapete
e o preto em luto daqueles que estiveram em luta pelo brilho do sol
todas as cores são igual e infinitamente azuis:
tristes e frias
por bruno muniz, 11 de outubro de 2013.
que os tapetes seriam os vermelhos-sangue
que os estandartes erguer-se-iam verdes
viu-se o azul-celeste esconder-se sob o gris das nuvens
o preto em luto pelos irmãos mortos
empunhou-se do prata das espadas ao lado dos rubros de ódio
nas batalhas, uniu-se a eles o azul-naval
e trouxe o branco rosto da paz burguesa
com as letras da pena em negro-nanquim
enquanto, pasmos eram os rostos pardos de medo e apatia
então, guilhotinaram o amarelo-ouro da coroa
e as túnicas pretas clericais caíram também
e quando os pretos em luto pensaram em olhar para o azul-celeste que renasceria
viram o azul-naval segurar o mastro
e o branco da paz assegurar a mansidão
logo estavam de mãos dadas
e os pretos, os vermelhos-sangue e rubros de ódio
novamente viram-se sufocados em seus guetos
eis que alguns vermelhos-vivos levantaram bandeira
prometeram terras, verdade e poder
conquistaram os corações de muitos sofredores
de tantos tempos árduos, de tanta miséria
quando, enfim, uns poucos despossaram o azul-naval e o branco da paz
e o azul-celeste parecia despontar, de fato,
aos pretos em luto, os vermelhos-sangue e os rubros de ódio
o verde das matas começou a morrer em ritmo acelerado e, então,
o gris celeste escureceu novamente e os mares transparentes refletiram
por fim, a verdade maior
que evidenciou-se,
cristalina
sem a luz do sol, por trás da escuridão das nuvens
exceto o sangue vermelho daqueles que sempre serviram como tapete
e o preto em luto daqueles que estiveram em luta pelo brilho do sol
todas as cores são igual e infinitamente azuis:
tristes e frias
por bruno muniz, 11 de outubro de 2013.
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
MAIS UMA DOSE
o tempo nos consome,
impiedosamente
a culpa é nossa, e isso pesa mais ainda
olhamos pelas frestas da janela,
há vida
apenas assistimos, passivamente
um belo dia,
deitaremos pela última vez
não usamos nossa chance,
azar o nosso
o tempo não volta atrás nem se arrepende
a dor não escolhe a vítima,
e sim o contrário
encaremo-nos ao espelho,
a face será tão feia quanto vazia for
a vida
há pessoas que, durante a vida,
colecionam diversos fatos,
mas raros acontecimentos.
isso é o que posso dizer que constitui uma vida
sem sentido,
sem propósito,
sem graça
eu não aceitarei assim tão fácil...
peço mais uma dose.
por bruno muniz, 07 de agosto de 2013.
impiedosamente
a culpa é nossa, e isso pesa mais ainda
olhamos pelas frestas da janela,
há vida
apenas assistimos, passivamente
um belo dia,
deitaremos pela última vez
não usamos nossa chance,
azar o nosso
o tempo não volta atrás nem se arrepende
a dor não escolhe a vítima,
e sim o contrário
encaremo-nos ao espelho,
a face será tão feia quanto vazia for
a vida
há pessoas que, durante a vida,
colecionam diversos fatos,
mas raros acontecimentos.
isso é o que posso dizer que constitui uma vida
sem sentido,
sem propósito,
sem graça
eu não aceitarei assim tão fácil...
peço mais uma dose.
por bruno muniz, 07 de agosto de 2013.
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