o sabor de ferro persistirá por algum tempo
não deve levar mais que três dias até que se dêem conta
haverá o mau cheiro, haverá o frio, e o silêncio
haverá sangue pelo carpete e respingos na cortina
não mais que três dias pra que o suspeito esteja longe demais
e ninguém sentirá falta, já não há visitas, por que seria diferente?
não, sem alardes ou lágrimas
talvez uma nota de rodapé no diário local, sem missa, sem velório
no máximo, um inquérito policial será instaurado
e logo arquivado
paga-se o preço da antipatia e amargura
ainda que esta última não seja bem uma opção às vezes
mas paga-se o preço de todo modo
engana-se aquele que se pensa imune
a sorte é como a beleza e
não tarda em acabar
ouço sirenes e algum tempo depois
alguém arromba porta da cozinha
estou no chão, foi muito mais rápido que pensei
mas não adianta nada, já foi meu tempo
a partir de agora tanto faz
quem se lembrará de mim?
talvez apenas o filho da puta que fez isso comigo
de qualquer maneira,
não temos mais uma pendência
dívida paga
saí no prejuízo
por bruno muniz, algum dia de outubro de 2013.
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
O INFERNO ESTÁ EM TODO MUNDO
me queimava o estômago e o doutor não trazia solução
eu pensava nos problemas de amanhã e não saía do lugar
o dia de ontem não tinha terminado e não havia previsão de melhora
ouvia à tv num programa misto autoajuda e dia-a-dia "dona de casa"
pensei, como será que fazem pra esconder ou fingir a dor do ser?
sentiam azia, medo, dor nas juntas ou dúvidas? qualquer tipo de incerteza?
estavam anestesiados, moribundos ou seguravam bem a bronca?
ou a imbecilidade da tv os convencera também?
sorriam fácil, simpáticos manequins saudáveis e felizes
viviam de dietas perfeitas em rotinas controladas
sabiam dos anseios e angústias de um povo deveras maltratado?
das lástimas e fraquezas do indivíduo sozinho antes do banho?
sim, sabiam... mas, e essa cara de pau? de onde vinha?
eu me senti cansado, cansado de resistir, de ouvir tanta merda
era muita futilidade, tudo descartável e efêmero
muita felicidade vazia numa caixa preta que emite sons com imagens coloridas
o doutor ainda não me chamara, e a tv continuava tagarela,
vomitando suas paralelas verdades com piadas ruins, falsas e babacas
quase saí da sala de espera e, então, meu estômago
filho da puta, voltou a queimar, rasgando à garganta
que inferno!
não, eu não fingiria porra nenhuma
e fiquei lá, com cara de dor, antipático e ansioso
que me ardesse a alma eternamente
mas que tanto a dor quanto a libertação fossem verdadeiras
senti um certo orgulho
em mim, nada era plástico: nem uma lágrima, nem um sorriso
muito menos a queimação no estômago!
por bruno muniz, 07 de novembro de 2013.
eu pensava nos problemas de amanhã e não saía do lugar
o dia de ontem não tinha terminado e não havia previsão de melhora
ouvia à tv num programa misto autoajuda e dia-a-dia "dona de casa"
pensei, como será que fazem pra esconder ou fingir a dor do ser?
sentiam azia, medo, dor nas juntas ou dúvidas? qualquer tipo de incerteza?
estavam anestesiados, moribundos ou seguravam bem a bronca?
ou a imbecilidade da tv os convencera também?
sorriam fácil, simpáticos manequins saudáveis e felizes
viviam de dietas perfeitas em rotinas controladas
sabiam dos anseios e angústias de um povo deveras maltratado?
das lástimas e fraquezas do indivíduo sozinho antes do banho?
sim, sabiam... mas, e essa cara de pau? de onde vinha?
eu me senti cansado, cansado de resistir, de ouvir tanta merda
era muita futilidade, tudo descartável e efêmero
muita felicidade vazia numa caixa preta que emite sons com imagens coloridas
o doutor ainda não me chamara, e a tv continuava tagarela,
vomitando suas paralelas verdades com piadas ruins, falsas e babacas
quase saí da sala de espera e, então, meu estômago
filho da puta, voltou a queimar, rasgando à garganta
que inferno!
não, eu não fingiria porra nenhuma
e fiquei lá, com cara de dor, antipático e ansioso
que me ardesse a alma eternamente
mas que tanto a dor quanto a libertação fossem verdadeiras
senti um certo orgulho
em mim, nada era plástico: nem uma lágrima, nem um sorriso
muito menos a queimação no estômago!
por bruno muniz, 07 de novembro de 2013.
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