quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O INFERNO ESTÁ EM TODO MUNDO

me queimava o estômago e o doutor não trazia solução
eu pensava nos problemas de amanhã e não saía do lugar
o dia de ontem não tinha terminado e não havia previsão de melhora

ouvia à tv num programa misto autoajuda e dia-a-dia "dona de casa"
pensei, como será que fazem pra esconder ou fingir a dor do ser?
sentiam azia, medo, dor nas juntas ou dúvidas? qualquer tipo de incerteza?
estavam anestesiados, moribundos ou seguravam bem a bronca?
ou a imbecilidade da tv os convencera também?
sorriam fácil, simpáticos manequins saudáveis e felizes
viviam de dietas perfeitas em rotinas controladas
sabiam dos anseios e angústias de um povo deveras maltratado?
das lástimas e fraquezas do indivíduo sozinho antes do banho?
sim, sabiam... mas, e essa cara de pau? de onde vinha?

eu me senti cansado, cansado de resistir, de ouvir tanta merda
era muita futilidade, tudo descartável e efêmero
muita felicidade vazia numa caixa preta que emite sons com imagens coloridas
o doutor ainda não me chamara, e a tv continuava tagarela,
vomitando suas paralelas verdades com piadas ruins, falsas e babacas

quase saí da sala de espera e, então, meu estômago
filho da puta, voltou a queimar, rasgando à garganta
que inferno!
não, eu não fingiria porra nenhuma
e fiquei lá, com cara de dor, antipático e ansioso
que me ardesse a alma eternamente
mas que tanto a dor quanto a libertação fossem verdadeiras
senti um certo orgulho
em mim, nada era plástico: nem uma lágrima, nem um sorriso
muito menos a queimação no estômago!


por bruno muniz, 07 de novembro de 2013.

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