quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O CÃO CONTRA SUA SOLITUDE

o cigarro aceso queimando o braço
daquela poltrona velha e encardida
o cheiro de mofo, a poeira leve
o rejunte sujo, a ferrugem das dobradiças

o cão companheiro ao pé da poltrona
em triste olhar ao silêncio do dono
seu pote de comida vazio e sem água
seu pelo embaraçado, sem carinho ou adorno

a tv ligada em canal qualquer
canais de venda e propagandas mentirosas
pastores gritam à salvação dos justos
mas ninguém trará sorte a essas almas chorosas

a torneira da pia da cozinha pinga
o ponteiro do relógio da parede parou
na cidade insana que não para ou dorme
vizinho algum deu falta ou procurou

o lixo
já começava a deteriorar
o odor desagradável
tomava conta do lugar

aquele velho cão,
parceiro fiel
entendeu primeiro,
mas não olhou ao céu

cartas não passavam porta abaixo,
dias se passaram
janelas fechadas,
nem os pássaros cantavam
até a senhoria vir cobrar o aluguel,
ninguém notará
e, mesmo morto há tempos,
sozinho, não está
sem Deus por perto,
sem qualquer acalento
sobrou seu amigo
contra qualquer tormento
pode descansar
ante a dor do ser
de estar à deriva,
à espera de viver


por bruno muniz, 31 de outubro de 2013.

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