quinta-feira, 4 de abril de 2013

A SARJETA

eu, deitado junto à sarjeta, estou
com as calças rasgadas
e as meias sujas da água que sai do esgoto
a chuva parou
e estou bêbado e inútil
e não vou conseguir me levantar daqui

as putas já estão na esquina
esperando o próximo cliente, e me olham
não passo de lixo, sou parte do cenário
não posso comprar amor, não
não desse jeito

os carros começam a passar
de lá pra cá, alguns param, elas entram
entram e saem, entram e saem
eu observo, a noite cai
e algumas delas demoram a voltar

nos carros, mulheres ou homens
velhos, jovens, casais, trios
todos querem diversão, e nada melhor
o amor é frágil, a curiosidade é forte
vontade não falta, que viva o risco

continuo eu, cá, jogado no chão
a garrafa, agora vazia, fodeu comigo
minha própria puta, privativa
é o amor que pude comprar,
toda minha, e um litro de beijos

um carro passa rápido sobre a poça d'água
que voa pra cima de mim
malditos fodedores de putas
eu não precisava disso
amanhã, todos voltarão aqui
mas eu não, espero


por bruno muniz, 4 de abril de 2013

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