sexta-feira, 25 de julho de 2014

CÚMPLICES

milênios sob chamas
sonhos sepultados
pequenos desgraçados
jovens amputados

mães sem esperança
histórias roubadas
amigos perdidos
vidas saqueadas

peitos vazios
destroços espalhados
ruas de sangue
de deus, fingiu-se o diabo

o futuro condenado
expulsos, ultrajados
o destino soterrado
aos corpos amontoados

não haverá amanhã
se houver apenas silêncio
não haverá amanhã
se houver apenas tormento

somente o horror,
a morte, a dor
somente o medo,
a covardia, o terror

o assassínio liberto
brutal e interminável
a passividade declarada
assumida e abominável

perdoai-nos, um dia
perdoai nossa dificuldade
perdoai nossa falta de coragem
perdoai nossa cumplicidade,
nossa imensa
perversividade


por bruno muniz, 25 de julho de 2014.

Um comentário:

  1. Um sucedâneo. O grande escritor Plínio Marcos termina seu livro "Na barra do catimbó" que é a história sobre favelas, com o seguinte parágrafo após o incêndio fatal: - ...Quando o dia foi raiando, o povão começou a limpar o terreno para reerguer seus barracos. Eles tinham uma única certeza: são filhos dos orixás. Penam, mas são imortais. Mesmo sendo inconscientes de toda força que têm, no íntimo sabem que um dia influirão no próprio destino e farão a própria história. Nesse dia, aí dos que forçaram esses anjos catimbozeiros a tanto padecimento. (sic)

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