terça-feira, 11 de março de 2014

TREM DOS DIAS

são rostos turvos mesmo atrás das lentes
olhos baixos, cansados, decepcionados
as mãos pesadas sobre o colo
os ombros soltos, braços pendurados
são tantas dores e perdas
de voz, de sono, de força, de tempo
num vai e vem diário, sem sentido
a boca seca, aberta, à procura de ar
a roupa amassada, os pés molhados
mesmo sob os sapatos, há frio
olhares perdidos,
onde é, onde há horizonte?
sonhos, sons, prazeres... ocos
fugazes esperanças e expectativas desfeitas
desnudadas perante a realidade
objetiva e crua, sem floreios, sem canteiros
imensa Terra que se contorna todos os dias
e traz de volta o sol para nos lembrar
do que deixamos esquecido
sob uma frígida vida, vida insossa
dos que apenas sobrevivem hoje, ao hoje
mas não imaginam o amanhã
riscos, rabiscos, rascunhos do que a natureza
nos projetou
homens mulheres, velhos crianças
seres que dissimulam-se alegres,
nas danças
mas se abandonam por valores sólidos
um tanto mórbidos
desprezados, revelados não mais que ratos
tristes passivos, coadjuvantes do horror
apenas dublês de si mesmos
nos deixamos pra trás, de lado
e ficamos assistindo ao filme repetido
enquanto o trem segue
e a próxima estação será
o eterno retorno ao princípio
deste
mesmo
trilho

por bruno muniz, 07 de março de 2014.

Um comentário:

  1. Gostei muito deste poema.
    Se o entendi: A vida continua. A contínua mesmice de todos os dias. Os homens e seus mesmos caminhos sem noção da mudança precisa. As obrigações da roda-viva. A certeza imprecisa, que é a luta por um mais um dia, por mais um sorriso forçado de ser feliz enquanto se vive a "vida" - os ratos também vivem!

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